quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Churrasco sem carne

Achei muito interessente este artigo, vale a pena ler:

Publicado no site do Clube de Criação do Parana (
http://www.ccpr.org.br/)


Por: Eduardo Visinoni
Eduardo Visinoni é supervisor de criação da Bronx. Com 11 anos de mercado, passou pela Heads, Master/Thompson e GET. Foi Profissional do Ano da Rede Globo e por três vezes short-list em Cannes e arruma ainda tempo para escrever no johnnypinguela.zip.net

Existe um filha-de-uma-puta entre nós.

Bem, na verdade, existem vários. Mas esse é “o cara”. Esse é “o cão”. Esse fodeu todo mundo. Eu, você, seu cliente e, com todo respeito, até sua santa mãe. Todos se fodem na mão desse cara. O que ele fez? Esse filha-de-uma-puta serviu o churrasco sem carne.

Explico-me: há muito tempo um grande mestre cuca, bom e sábio inventou o churrasco com carne. Para tanto ele estipulou que em essência para ser churrasco devia haver brasa, espeto, tempo e a carne.

Assim, o churrasco começou a ganhar fama. Inventaram novos cortes, temperos diferentes, carnes inusitadas e acompanhamento completaram a fama da carne brasileira na brasa. Tudo ia bem. As churrascarias cresciam, os clientes gostavam, a mesa era farta. Até que um triste dia, um cliente sem saber o que queria (ou fazia) entrou na churrascaria e perguntou se dava para servir o churrasco sem os acompanhamentos. Afinal, o bom da carne é ela mesma. Assim foi feito e a maionese, o vinagrete, a polenta e a cerveja rodaram.

Satisfeito com o resultado do churrasco sem acompanhamento, o cliente voltou na semana seguinte e pediu para ver ser dava para dimunir o tamanho das peças de carne, tirar ospontiagudos e perigosos espetos de aço e manerar no tempero. Assim, lhe foi servido o chicho empalado num espetinho de pau. O cliente gostou do chicho.
Mas achou os cubos de alcatra meio grandes, a cebola ardida e que o tomate, na cor vermelha, lhe lembrava o demônio. Assim, no retorno a churrascaria, resolveu pedir para assarem no gás (chama azul) um chicho com cubos pequenos e o pepino quadrado. Foi atendido e saiu bem satisfeito. Afinal, mesmo mal passado tinha o um “q” de churrasco. Dai ele voltou na semana seguinte com o grande pedido:

- Será que dá para tirar a carne do churrasco?

O filha-de-uma-puta podia ter argumentado sobre a fundamentalidade de ter carne no churrasco, podia falar do valor energético da carne, alardear o sabor incomparável, com gosto de quero mais da carne. Mas nada! Servil, covarde ou somente ignorante de seu ato, disse:

“- Dá, sim senhor”.

Assim, o que podia ser um delicioso churrasco começou a perder encanto. E pior: de lá para cá passaram a pensar que pepino no palito era churrasco.

Assim, propaganda virou uma coisa barata, rasteira, chata e sem graça, quando deveria ser um baita banquete.

Assim, as verbas gordas e saborosas, mirraram, churrascarias encolheram e algumas viraram “por quilo” outras lanchonetes.

Assim, criativos passaram de mestre churrasqueiros a meros chapeiros.

Assim, os prazos de produção se igualaram aos de fast food.

Assim, os horários nobres, como carnes nobres, viraram coisas caras, intragáveis.

Assim, a santa mãe da gente, não assobia mais jingles e nem ouve o apito do Peru e sempre muda de canal na hora do comercial frio e duro.

Enfim, assim a propaganda virou um mero pepino quadrado imediatista e descartável para empresas, ao invés de ser fundamental como a costela foi para Adão.

Tudo culpa dele. O filho-de-uma-puta que serviu o churrasco sem carne. Elepodia não saber o que fazia. Mas, com certeza, hoje sente bem fundo o espeto cravado em suas próprias costas.

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