Sua residência é bem movimentada, um vai-e-vem. Tem dois saguões com dezenas de televisões e mesas de refeição. A garagem então é mais ampla: entram centenas de carros e dezenas de aviões. A suíte, entretanto, é bem improvisada: duas mesinhas de fórmica são sua cama, e o banheiro anexo é o sanitário de cavalheiros do terminal 2 de Cumbica, o principal aeroporto do país.
"Aqui sinto que estou em casa. À noite, é tranquilo, ninguém me acorda. De dia, tenho muita amizade, quebro o galho deles. E eles me dão uma caixinha", resume assim Denis de Souza um cotidiano que leva há pelo menos oito anos. Tamanha é a confiança que ele desconta cheques altos e arruma trocado para notas de R$ 100 para os outros trabalhadores do aeroporto.
Durante a entrevista para o UOL Notícias, ele corria para fazer a aposta na Mega-Sena do atendente de uma cafeteria.
Ele se adaptou tão bem ao ambiente fechado que não sabe em que dia da semana ou do mês está. Não sabe também ao certo quantos anos têm (acha que fez 25 anos, mas também não lembra a data de seu aniversário e afirma ter perdido os documentos) nem há quantos vive por lá: "Estou aqui há o maior tempo, mais de cinco anos". As lojistas mais veteranas contam que vêem Denis por lá há muito mais tempo. O que sabe com certeza é o dia em que o Corinthians joga.
Ele chegou no aeroporto quando pegou um ônibus em Itaquaquecetuba, cidade da Grande São Paulo, e seguindo a rota da rodovia Ayrton Senna foi parar no aeroporto da vizinha Guarulhos. A madrasta batia nele.
O pai o teria enxotado de casa após a primeira estadia em Cumbica. "Meu pai falou para eu ficar no aeroporto, afinal, aqui eu conheço todo mundo, tenho amizade. Lá é muito feio. Prefiro aqui, me sinto seguro", se resigna o rapaz, de comportamento bastante infantil.
Para permanecer no aeroporto segue duas regras: não pedir esmolas e não incomodar os passageiros. Ou nas palavras de Denis: "tem que ficar de boa." Por perto dele, três meninos da vizinhança pobre de Guarulhos ensaiam uma algazarra e são "convidados" a sair por um segurança. Pela posição da polícia e da Infraero (administradora dos aeroportos), o local é público e ninguém que não ofereça algum perigo aos frequentadores pode ser expulso. Vez ou outra, é expulso por um segurança. Mas logo retorna. Outras vezes sai para fazer bico nos bairros próximos, mas à noite lá está ele de volta.
Esta versão brasileira do filme "O Terminal" é um exemplo da economia informal e da cultura do favor que marcam o país, com Denis aproveitando uma brecha do aeroporto para levar uma vida, no mínimo, incomum.
Termometro Jr.P.
Vida incomum? Eu sinceramente acho que alguns jornalistas moram junto com a Alice, lá mesmo no país das maravilhas, afinal realmente alguém acredita que o rapaz na infância pensou: "Quando crescer quero morar num aeroporto", sem asegurança de uma casa junto com a família, sem o conforto e a identidade do seus espaço?
Fala sério isto é um exemplo do ponto que chega uma sociedade, claro que a situação é a vida imitando a arte, porémcom impulsos diferentes que levaram a ação. Afinal não queira comparar um cara que viajou para outro país para conseguirautográfos em memória do pai, e um rapaz de 25 anos (poxa mais novo que eu) que vive em sua cidade ou nas proximidadesdela sem oportunidades, ou melhor criando suas oportunidades.
Sei lá isto faz me pensar na segurança de ter um lugar para voltar depois das batalhas do dia. Ter um porto-seguro é muito bom, não damos valor porque ele sempre esta lá.
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